A Resposta Sexual Feminina

( Trecho adaptado de "Novas Perspectivas em Ginecologia" )


Nelson Soucasaux

Nelson Drawing 1977
 

Por resposta sexual devemos aqui nos referir aos aspectos mais fisiológicos da mesma. Como observei no meu livro acima citado, existem consideráveis diferenças relativas a estes aspectos entre mulheres e homens, como o fato de, na mulher, após o orgasmo não haver período refratário que a impeça de, logo em seguida, reiniciar um novo ciclo excitatório - ao contrário do que ocorre no homem. Isto possibilita à mulher ter orgasmos múltiplos, sucessivos - ainda que, por motivos que veremos adiante, a incidência de anorgasmia ( ausência de orgasmo ) entre as mulheres seja muito alta.

Os principais fenômenos objetivos que se passam nos genitais femininos durante o ciclo de resposta sexual são:1) transudação e lubrificação vaginal; 2) alongamento e alargamento da vagina; 3) intumescimento da genitália externa; 4) intumescimento do terço inferior da vagina, formando a "plataforma orgásmica"; 5) aumento de volume do útero; 6) elevação do útero na pelve - fenômeno que só se dá nos úteros em anteversão ( posição do útero na qual o corpo do órgão encontra-se inclinado para a frente, na direção da bexiga ), não ocorrendo nos retrovertidos ( posição na qual o corpo uterino inclina-se para trás, na direção do reto ); 7) durante o orgasmo, tanto o útero quanto a musculatura perineal que circunda o intróito vaginal se contraem ritmicamente; 8) após o orgasmo, se não se iniciar outro ciclo excitatório, todas estas transformações regridem em pouco tempo.

Todos estes fenômenos devem-se a reações congestivas ( de vasodilatação ) e reações miotônicas ( caracterizadas por um aumento do tônus e da contratilidade muscular ), sendo controlados pela inervação vegetativa dos genitais femininos ( que é um tipo de inervação que controla o funcionamento das vísceras, compreendendo os sistemas simpático e parassimpático). É após o orgasmo que a intensa vasocongestão pélvica decorrente da excitação sexual se desfaz com rapidez. Não sendo atingido o orgasmo, essa vasodilatação leva um tempo bem maior para desaparecer, o que, na mulher, pode desencadear fenômenos dolorosos devidos ao intumescimento persistente dos genitais internos. Dados fisiológicos detalhados sobre estes eventos físicos, objetivos, decorrentes da excitação sexual, podem ser encontrados nos trabalhos pioneiros de Masters e Johnson ( Masters, W.; Johnson, V. - "Respuesta Sexual Humana" - Inter Medica Editorial, Argentina, 1967 ).

Como a dificuldade em atingir o orgasmo é, por diversas razões, muito freqüente no sexo feminino, a excitação sexual prolongada não-resolvida pela resposta orgásmica pode levar a um quadro de congestão e dor pélvica. Essa dificuldade em chegar ao orgasmo que atormenta tantas mulheres deve-se, em grande parte, à própria complexidade da resposta sexual feminina. Porém, deve-se dizer que, à essas dificuldades inerentes à fisiologia sexual da mulher, se somam as decorrentes da inabilidade masculina e do desconhecimento, por ambos os sexos, de tudo o que diz respeito tanto à resposta quanto à psicologia sexual.

Muitas mulheres queixam-se de irritação e desconforto vaginal após o coito. Na ausência dos freqüentes processos inflamatório-infecciosos vulvovaginais e da secura e hipotrofia desses órgãos decorrentes da queda estrogênica pós-menopáusica, uma das causas dessa sensação de irritação vaginal pós-coito é o fato de a mulher ser penetrada antes de estar excitada. Como a primeira reação dos genitais femininos à excitação sexual é a lubrificação vaginal, se houver penetração peniana sem que a mulher esteja excitada e, conseqüentemente, sem que a vagina esteja devidamente lubrificada, sintomas de incômodo e desconforto vulvovaginais poderão ocorrer.

Ainda quanto a resposta sexual feminina, outra questão importante é aquela antiga controvérsia relativa ao orgasmo clitoriano e vaginal. É sabido que o orgasmo, como resposta fisiológica, é basicamente o mesmo, independentemente da área estimulada. Apenas a intensidade, tanto da resposta a nível físico quanto da experiência subjetiva ( psicológica ), é que pode variar. Sabe-se porém que, a nível genital, o clitóris é muito mais sensível à estimulação do que a vagina - cujas paredes, principalmente nos seus dois terços internos, têm, inclusive, pouca sensibilidade específica. Assim, quanto à resposta orgásmica, na maior parte das mulheres a estimulação clitoriana é mais efetiva do que a da vagina - apesar de a estimulação desta pelo pênis durante o coito poder produzir uma estimulação secundária do clitóris, devida ao movimento e à tração sobre os lábios vulvares. Além disso, durante o coito também pode haver um contato do púbis masculino com a região clitoriana - principalmente no intercurso com a mulher por cima do homem.

De qualquer forma, dada a complexidade da resposta sexual feminina, é sabido que relativamente poucas mulheres atingem habitualmente o orgasmo durante o coito vaginal. Por ser a resposta sexual feminina muito mais complexa do que a masculina ( fato este agravado pelo freqüente desentendimento entre as duas partes devido a incompreensão do problema ), na maior parte das vezes, sob o ponto de vista da efetividade da estimulação física durante o intercurso sexual, o coito vaginal é bem mais importante para o homem do que para a mulher. A vagina é o órgão ideal para estimular o pênis e levar o homem ao orgasmo, porém o pênis não é, muitas vezes, o órgão ideal para levar a mulher ao orgasmo.

Assim, sob o aspecto estritamente físico do contato sexual ( e apenas neste aspecto físico, quero deixar bem claro ), o coito vaginal parece ser mais efetivo para satisfazer o homem. Já sob o ponto de vista psicoemocional, que é o mais importante, esta observação perde a validade, e aqui o valor do coito vaginal torna-se igualmente enorme para ambos os sexos. Porém, esta defasagem existente no plano fisiológico freqüentemente tem diversas implicações para a mulher, podendo acarretar problemas psicológicos e psicossomáticos. À esta defasagem soma-se o fato de ser o coito vaginal que cria o risco de gestações indesejadas, gerando mais uma preocupação para a mulher, e obrigando-a a buscar métodos anticoncepcionais.

Como exemplos da problemática mencionada, podemos citar desde uma atitude de ressentimento contra os homens ( que pode se expressar inclusive por frigidez ou dor ao coito ), até os sintomas dolorosos da congestão pélvica crônica resultante de ciclos de excitação prolongada não-resolvida através da resposta orgásmica, que freqüentemente não é atingida.
Como sabemos através dos trabalhos de Masters e Johnson, é após o orgasmo que a intensa vasocongestão pélvica decorrente da excitação sexual se desfaz com rapidez. Não sendo atingido o orgasmo, esta vasodilatação leva um tempo bem maior para desaparecer, o que, na mulher, pode desencadear fenômenos dolorosos devidos ao intumescimento persistente dos genitais internos.

Nota : Quanto àquela pequena estrutura localizada por trás da parede anterior da vagina, ao longo do trajeto da uretra, e cuja estimulação também pode levar algumas mulheres ao orgasmo, ver o "Ponto de Gräfenberg".



Nelson Soucasaux é ginecologista, dedicado à Ginecologia Clínica, Preventiva e Psicossomática. Formado em 1974 pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autor de diversos trabalhos publicados em revistas médicas e dos livros "Novas Perspectivas em Ginecologia" e "Os Órgãos Sexuais Femininos: Forma, Função, Símbolo e Arquétipo", publicados pela Imago Editora, Rio de Janeiro, 1990, 1993.





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Email: nelsons@nelsonginecologia.med.br