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Por resposta sexual devemos aqui nos referir aos aspectos mais fisiológicos da mesma. Como observei no meu livro acima citado, existem consideráveis diferenças relativas a estes aspectos entre mulheres e homens, como o fato de, na mulher, após o orgasmo não haver período refratário que a impeça de, logo em seguida, reiniciar um novo ciclo excitatório - ao contrário do que ocorre no homem. Isto possibilita à mulher ter orgasmos múltiplos, sucessivos - ainda que, por motivos que veremos adiante, a incidência de anorgasmia ( ausência de orgasmo ) entre as mulheres seja muito alta. Os principais fenômenos objetivos que se passam nos genitais femininos durante o ciclo de resposta sexual são:1) transudação e lubrificação vaginal; 2) alongamento e alargamento da vagina; 3) intumescimento da genitália externa; 4) intumescimento do terço inferior da vagina, formando a "plataforma orgásmica"; 5) aumento de volume do útero; 6) elevação do útero na pelve - fenômeno que só se dá nos úteros em anteversão ( posição do útero na qual o corpo do órgão encontra-se inclinado para a frente, na direção da bexiga ), não ocorrendo nos retrovertidos ( posição na qual o corpo uterino inclina-se para trás, na direção do reto ); 7) durante o orgasmo, tanto o útero quanto a musculatura perineal que circunda o intróito vaginal se contraem ritmicamente; 8) após o orgasmo, se não se iniciar outro ciclo excitatório, todas estas transformações regridem em pouco tempo. Todos estes fenômenos devem-se a reações congestivas ( de vasodilatação ) e reações miotônicas ( caracterizadas por um aumento do tônus e da contratilidade muscular ), sendo controlados pela inervação vegetativa dos genitais femininos ( que é um tipo de inervação que controla o funcionamento das vísceras, compreendendo os sistemas simpático e parassimpático). É após o orgasmo que a intensa vasocongestão pélvica decorrente da excitação sexual se desfaz com rapidez. Não sendo atingido o orgasmo, essa vasodilatação leva um tempo bem maior para desaparecer, o que, na mulher, pode desencadear fenômenos dolorosos devidos ao intumescimento persistente dos genitais internos. Dados fisiológicos detalhados sobre estes eventos físicos, objetivos, decorrentes da excitação sexual, podem ser encontrados nos trabalhos pioneiros de Masters e Johnson ( Masters, W.; Johnson, V. - "Respuesta Sexual Humana" - Inter Medica Editorial, Argentina, 1967 ). Como a dificuldade em atingir o orgasmo é, por diversas razões, muito freqüente no sexo feminino, a excitação sexual prolongada não-resolvida pela resposta orgásmica pode levar a um quadro de congestão e dor pélvica. Essa dificuldade em chegar ao orgasmo que atormenta tantas mulheres deve-se, em grande parte, à própria complexidade da resposta sexual feminina. Porém, deve-se dizer que, à essas dificuldades inerentes à fisiologia sexual da mulher, se somam as decorrentes da inabilidade masculina e do desconhecimento, por ambos os sexos, de tudo o que diz respeito tanto à resposta quanto à psicologia sexual. Muitas mulheres queixam-se de irritação e desconforto vaginal após o coito. Na ausência dos freqüentes processos inflamatório-infecciosos vulvovaginais e da secura e hipotrofia desses órgãos decorrentes da queda estrogênica pós-menopáusica, uma das causas dessa sensação de irritação vaginal pós-coito é o fato de a mulher ser penetrada antes de estar excitada. Como a primeira reação dos genitais femininos à excitação sexual é a lubrificação vaginal, se houver penetração peniana sem que a mulher esteja excitada e, conseqüentemente, sem que a vagina esteja devidamente lubrificada, sintomas de incômodo e desconforto vulvovaginais poderão ocorrer. Ainda quanto
a resposta sexual feminina, outra questão importante é aquela
antiga controvérsia relativa ao orgasmo clitoriano e vaginal. É
sabido que o orgasmo, como resposta fisiológica, é basicamente
o mesmo, independentemente da área estimulada. Apenas a intensidade,
tanto da resposta a nível físico quanto da experiência
subjetiva ( psicológica ), é que pode variar. Sabe-se porém
que, a nível genital, o clitóris é muito mais sensível
à estimulação do que a vagina - cujas paredes, principalmente
nos seus dois terços internos, têm, inclusive, pouca sensibilidade
específica. Assim, quanto à resposta orgásmica, na
maior parte das mulheres a estimulação clitoriana é
mais efetiva do que a da vagina - apesar de a estimulação
desta pelo pênis durante o coito poder produzir uma estimulação
secundária do clitóris, devida ao movimento e à tração
sobre os lábios vulvares. Além disso, durante o coito também
pode haver um contato do púbis masculino com a região clitoriana
- principalmente no intercurso com a mulher por cima do homem. Assim, sob
o aspecto estritamente físico do contato sexual ( e apenas neste
aspecto físico, quero deixar bem claro ), o coito vaginal parece
ser mais efetivo para satisfazer o homem. Já sob o ponto de vista
psicoemocional, que é o mais importante, esta observação
perde a validade, e aqui o valor do coito vaginal torna-se igualmente
enorme para ambos os sexos. Porém, esta defasagem existente no
plano fisiológico freqüentemente tem diversas implicações
para a mulher, podendo acarretar problemas psicológicos e psicossomáticos.
À esta defasagem soma-se o fato de ser o coito vaginal que cria
o risco de gestações indesejadas, gerando mais uma preocupação
para a mulher, e obrigando-a a buscar métodos anticoncepcionais.
Nota : Quanto
àquela pequena estrutura localizada por trás da parede anterior
da vagina, ao longo do trajeto da uretra, e cuja estimulação
também pode levar algumas mulheres ao orgasmo, ver o "Ponto
de Gräfenberg". Nelson Soucasaux
é ginecologista, dedicado à Ginecologia Clínica,
Preventiva e Psicossomática. Formado em 1974 pela Faculdade de
Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autor de
diversos trabalhos publicados em revistas médicas e dos livros
"Novas Perspectivas em Ginecologia"
e "Os Órgãos Sexuais Femininos:
Forma, Função, Símbolo e Arquétipo",
publicados pela Imago Editora, Rio de Janeiro, 1990, 1993.
Email: nelsons@nelsonginecologia.med.br |